Mary Jane é ruiva e tem uma cicatriz no
rosto que me encanta. Mary Jane é o primeiro nome da lista. Por mais que eu
decida jogar alguém na frente, ela salta e não tem como competir. É isso. Não
vou tentar mais garantir som à voz do esquecimento. Ela não se pronuncia quando
se refere àqueles que amamos incondicionalmente. E agora que faz escuro dentro
desse quarto, eu sei: o amor é o tempo de uma folha cair do galho até o chão,
eterno e curto. São muitos os pensamentos que atravessam a minha cabeça, por vários
motivos; posso citar apenas um deles: aconteceu um acidente. Transito entre o
antes e o depois com a insistência de querer que tudo possa ainda ser evitado;
mas não vai nunca poder se evitado, pois já aconteceu. Penso em Mary Jane e em
como era bom o tempo em que éramos um para o outro. Ela está aborrecida comigo,
aborrecida com o que eu me transformei. Eu sou muito pior que a cicatriz no
rosto de Mary Jane. Mas não posso me concentrar nisso, pois vai doer mais,
preciso evitar a dor. Embora ela esteja por perto, rondando. Não vou mexer. O
crime de fugir daquilo que somos cobra sempre um preço alto. Eu não quis. Não
quero. Mas agora sou obrigado a aceitar. Justo agora que tudo pode ficar pior.
Este é o início da aprendizagem: sustentar a cabeça torna-se tarefa dificílima
quando o corpo está em completo desconforto de si mesmo. Não vou gritar,
não vou espernear. Aqui é proibido tudo o que não seja silêncio e paciência.
O Universo & Outras Ficções, de Carlos Alberto Machado.
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Uma das principais características de *O Universo & Outras* *Ficções*, de
Carlos Alberto Machado (C.A.M.), com edição de Companhia das ilhas, no
corrente...
Há 5 anos
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