Num desses álbuns virtuais
Vasculhados pelas minhas solidões
Tenho gasto horas assim
Vendo vidas alheias
Para ver se encontro na minha
Algum sentido, uma pista
Que distração, hein?
Tua mãe, uma irmã talvez
Deixou que você fosse flagrado
Na nudez de seus olhos cegos
Sem que você visse ou pedisse
Essa tão secreta intimidade
Que você costuma preservar
Atrás dos óculos escuros
Me faltava esse recorte...
Olhei sua face fotografada
Por longo tempo suspenso
O par de orelhas
O desenho de sua boca
Logo abaixo do nariz
Parados, coadjuvantes
Diante de tanta expressão
O esquerdo completo fechado
Como se costurado fosse
E o direito, aquele arregalado
Tonto, perdido, peixe sozinho
Num eterno aquário
Olhei tanto que quase compreendi
O mistério que subsiste
Por trás das coisas sem voz
Depois esqueci tudo
E os gritos da rua voltaram
A me assustar os ouvidos
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