quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Criptonita



Pura maldade, as ilusões do cinema
Eu tinha apenas oito anos
Entrei naquela matinée
Nem sabia que estava prestes
A conhecer meu primeiro amor
O passo um tanto bambo
Pelo apertado do sapato
Meu pai nem estava ali
Distraída, sentei-me estrelinha
Entre a via láctea de assentos
(Na cidade, só o cinema e o cemitério
Eram maiores que a igreja)
Lábios sugando no canudinho
Umas últimas gotas de refri
Meus olhos vesgos se ergueram
Quando a música estourou
Lá pelas tantas, eu meio tonta
Dividida entre o herói e o manso,
Um pouso leve e o corpo duro
Braços cruzados frente a mim
E aquele "pega rapaz" que fazia bem assim...
O safado, imagine!, cravou-me os olhos
E fez aquele sorrisim
Ai, Super Homem, vem nin mim!
Mãos suadas, coração aos saltos
Dedos dos pé encurvados
Eu não era mais uma menina no cinema
Era só uma mulherzinha e seu amante


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